Coberturas
De Salto Alto para o amor e a alegria
Teatro da Assembléia, 02/02/2014
Por Elmo Gomes
Belo Horizonte é uma cidade que tem uma tradição na produção de teatro, principalmente em se tratando de grupos, formados por artistas locais que sempre têm em seu repertório ótimas montagens teatrais. Há bem tempo, todo ano temos a Campanha de Popularização de Teatro e da Dança que mantém peças já tradicionais em contato direto com o público e também serve para lançamento de novos espetáculos e novos artistas.
Uma das estréias deste ano, que aconteceu no dia 01 de fevereiro de 2014, no Teatro da Assembleia, é o espetáculo “Amor de Salto de Alto”, estrelado por Filipe Lourenço e Verônica Tanure, atriz que também assina a autoria e realiza sua primeira produção a frente de um espetáculo, que é dirigido por Guilherme Colina.
A respeito dessa nova experiência que além de atuar, ela também dirige e produz a peça, Verônica afirma que: “A experiência tem sido maravilhosa e ao mesmo tempo desafiadora. Produzir, atuar e assinar o texto é um trabalho árduo, porém gratificante. Graças a Deus o retorno está sendo positivo e isso nos dá forças para ousar sempre e não desistir nunca.”
Verônica vive a personagem Sandra, uma mulher de meia idade que através dos ensinamentos e imposições de sua mãe, busca a felicidade em um relacionamento, mas que por ter sido muito influenciada pelos conceitos, regras ditadas por sua mãe e também pela ditadura da beleza em que a sociedade sufoca a mulher moderna, Sandra não consegue se desvencilhar deste moldes e sofre muito tentando se auto descobrir.
Sobre a montagem do texto do espetáculo e a inspiração para a criação do personagem vivido por ela, a “Sandra”, a atriz, escritora e produtora nos disse que: “A Sandra é o retrato da mulher atual. Apesar de do texto ser criado por mim, ela representa a vida de muitas mulheres que se identificam a todo o momento com a personagem. Muitas se reconhecem nas situações abordadas e por isso, se divertem ainda mais. Escrever um texto que abordasse o universo feminino já era um desejo meu de anos atrás quando me formei em Artes Cênicas na UFMG e desenvolvi minha pesquisa criando uma comparação entre a mulher atual e a mulher da década de 50 nas obras de Nelson Rodrigues. Como a monografia foi elogiada pela banca, um dos avaliadores me perguntou se eu não tinha interesse em escrever textos de teatro. Tomei coragem e então surgiu “Amor de Salto Alto.”
O espetáculo em si é permeado de cenas em que Sandra conta seus amores e dissabores vividos dentro de seus relacionamentos, o espetáculo vai se desenvolvendo e o apartamento de Sandra parece sufocar seus medos e Verônica Tanure, aos poucos já totalmente entregue a seu personagem introduz o público na peça que passa a não ser mais somente espectadores mas, amigos, confidentes, psicólogos que se interagem e vivenciam dramas, alegrias e tristezas junto a Sandra.
Verônica, através das cenas vividas por Sandra, consegue que seu roteiro leve até as pessoas os sentimentos daquela mulher e propõe uma reflexão sobre este tema e faz com que as pessoas tentem rever seus comportamentos, seus desejos e seus medos e que encarem melhor a vivência com elas mesmas e com as pessoas que com elas se envolvam.
Como uma pessoa que se mostra atenta ao mundo em que vive, Verônica diz: “Minha intenção é causar reflexão sobre esse assunto tão atual e presente na vida, não só das mulheres, mas também dos homens. Hoje em dia, buscamos por padrões de beleza inatingíveis, impostos como belos pela sociedade, que valoriza o externo, as aparências. É preciso se atentar para essas questões enquanto ainda há tempo, o mundo sofre com a ditadura da beleza e se esquece dos valores humanos e do que cada um representa como pessoa, cidadão, pai, mãe, mulher...”
Verônica tem ao seu lado no palco o ator Filipe Lourenço,natural de Lavras, que encarna o personagem “Thiago Felipe” que tenta entender Sandra e mostrar a esta uma nova forma de ver o mundo. Filipe disse que para ele foi um presente ser convidado a participar da equipe e nos conta como é participar de um universo tão feminino: “Como homem eu vejo o espetáculo como uma maneira divertida de relatar os sentimentos e experiências vividas por várias mulheres e que é um tema fantástico, e posso sentir isto pois como me relaciono com namoradas, amigas, mãe, retrato nelas muitas das histórias da Sandra. E também foi muito importante para mim pois me levou a rever algumas atitudes e pensamentos e me fez dar mais valor a certas coisas em relação às mulheres.”
Vendo o público encher o teatro e se entregar às estórias de Sandra, há de se perceber que Verônica acertou na escolha do tema e que ela mesma sente essa reciprocidade do público, deixando transparecer sua satisfação e carisma em cena, como está descrito na sua fala: “A resposta positiva do público é meu maior presente esse ano. Colocar questões pessoais em cena, nos abrir para a sociedade, não é tão simples assim, pode não agradar... Mas graças a Deus a cada dia que passa tenho a certeza de que eu, juntamente com minha equipe, que é maravilhosa, fizemos um trabalho artístico de relevância.”
Após se emocionar, se enervar, sentir medo e prazer e principalmente se divertir e dar boas gargalhadas, o público deixou o teatro com uma mente mais aliviada e pronta para certas reflexões. Sandra será sempre lembrada quando se passar certas situações, pois desperta nas pessoas algo que estava adormecido. Neuza Oliveira, nos contou sua experiência: “A peça é maravilhosa, tudo de bom, a atriz é excelente, muito interativa e extrovertida.” Neuza ainda fez uma brincadeira: “morar em um prédio daqueles seria muito bom”, em alusão ao cenário onde é passado o espetáculo e fez questão de dizer que é uma excelente forma de distração.
Fotos Elmo Gomes
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