Coberturas

Ivan Lins, Toquinho e MPB4 estiveram, este fim de semana, em Belo Horizonte, no circuito de comemoração de seus 50 anos de carreira. O Palácio das Artes, que pelo próprio nome em si já declara, de pronto, a nobreza dos que lá se apresentam, foi o lugar da festa.

No presente, em que tão pouco tem-se a comemorar, recebemos este presente, reversamente, já que o aniversário era mesmo deles, como uma dádiva, e retribuímos como nos fosse possível. A casa cheia, aplausos ininterruptos e um coro afinado na música e na poesia, acompanhando-os em refrões que declamavam, na rima da admiração escancarada, nossa devoção por cada um deles e por todos, conjuntamente.

Estavam todos de cabeça branca, é verdade, quando a história colore a aura para, então, a maturidade dar-se a experimentar, deliciosamente, na suculência dos homens de real valor. Cinquenta anos de carreira sedimentados ali, irretocáveis, em acordes que em nós nos despertam o melhor e o mais bonito de nossas almas. A sensibilidade pode entregar-se sem medo, desnuda de parâmetros outros que não fossem a alegria e o amor. O fato é que a eternidade deles tem só cinquenta anos e isto é preciso saber-se. Quem esteve ali teve esta certeza: encontrara-se com o que foi, é e será para sempre.

O palco tornou-se altar de cultos, o de cada um deles, pela cultura mesmo, na densidade das letras, no significado de cada palavra, no propósito do texto da vida. Há muita responsabilidade em ser quem são, porque são. São músicos e poetas, não apenas fazem música e poesia. Fazer sendo é o grande desafio da essência no enfrentamento da aparência. Não estão na moda da falta de modos. Gastronomia de quem dá a alimentar espíritos e serve poesia e música para o prazer, o que foi nosso, artistas do sabor de os saber. Por eles, a linguagem jornalística se desculpa na literatura para poder dizer.

A narrativa não pode ser apenas objetiva quando o sujeito está sujeito a todos os sentimentos do mundo. Foi um evento em BH, por isso, pena, diz-se eventual.  Mas, agora, registra-se no BH Eventos quando Belo Horizonte os vê partir para saber do horizonte mesmo belo, estejam além das montanhas, nalgum lugar que os mereça. Cabeça, corpo, coração e espírito se regozijaram e teceram nossa complexidade sem complexos, fôssemos nós quem fôssemos, crianças, adolescentes, jovens e adultos, na afinidade da afinação deles. Adoramos estar ali.

Fotos: Telma Terra