Coberturas
Homenagem ao escritor Fábio Lucas na AML
Academia Mineira de Letras , 14/11/2018
Por Luiza Miranda
A Academia Mineira de Letras homenageou Fábio Lucas num encontro promovido pelo acadêmico Rogério de Faria Tavares, pelo mestre e professor Rogério Zola Santiago (Indiana University) e Simone Von Randow (PUC/Sorbonne), que proferiram palestra sobre “O Carater Social” da obra do homenageado.
Fábio Lucas é membro das Academias de Letras de São Paulo, de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Brasília; Presidente da UBE-União Brasileira dos Escritores em cinco mandatos. Foi diretor do INL-Instituto Nacional do Livro (1985-1986). Participou da fundação das revistas “Vocação” (1951) e “Tendência” (1956), em Belo Horizonte. Um dos mais importantes críticos literários em língua portuguesa no mundo, sem dúvida no Brasil, tem incursões na ficção romanceada, com o livro “A Mais Bela História do Mundo” (1996). É Professor Honorário pelo “The American for Foreign Trade”, Phoenix (USA); ganhador do Prêmio Jabuti (1970), pelo livro “O Caráter Social da Literatura Brasileira”; Personalidade Cultural do Ano (1981), concedido pelo Prêmio Fernando Chinaglia; Prêmio Crítica, Melhores do Ano (1982) da APCA-Associação Paulista de Críticos de Arte; Prêmio Juca Pato - Intelectual do ano (1992), pela UBE-União Brasileira de Escritores. Fábio Lucas já deveria, disse, ressaltou Carlos Drummond de Andrade, “há muito estar dentro da Academia Brasileira de Letras para dar àquela entidade um cunho de maior seriedade e prestígio linguístico internacional”.
Fábio Lucas: “A vida oferece-nos território irregular, mas há, muitas vezes, momentos como este, nos quais contemplo familiares e amigos, pessoas afetivamente ligadas a mim que tiveram o desconforto de sair de sua casa somente para tornar mais íntimos os laços que nos seguram. Amizade é uma das relações que só crescem com o tempo. E o que é o tempo? Um grande mistério. Para Santo Agostinho e Jean Jacques Rousseau, o tempo não possui vida própria, quem o faz são as pessoas. As pessoas não constroem o tempo, apenas utilizam o espaço para apertar o laço com aqueles que amam". Toda obra que está à disposição dos leitores aspira eternidade. O texto exige apoio do contexto e essa relação quem faz é a própria pessoa. O contexto estimula a mente e esta se apoia no mesmo. Essa harmonia é o que nos faz maiores e sublimes, de tal sorte que nos falta sempre a reposta. Somos feitos das respostas que os outros nos dão a respeito da nossa imagem, pois a fabricamos em contato com os outros”.
Texto 1 - Mentor e referência para várias gerações - UMA ANÁLISE DE CONTEÚDO, por Rogério Zola Santiago: No seu mestrado na Universidade de Indiana, USA, orientado pelo Presidente do Departamento Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos, professor e Doutor David Weaver, Santiago aprendeu a dissecar textos destacando elementos no intuito de clarear um pensamento consistente. Para dar a poetas e escritores em busca de uma ideia do que o Mestre e Doutor Fábio Lucas valoriza em um texto, pinçados foram itens das publicações “Sílvia Jacintho, a Coreografia do Desejo”, de “O Renascimento da Mulher nos Cantos de Laire Serra Matos” (do “Jornal O Escritor da UBE – União Brasileira de Escritores”). Também incluído um parágrafo de “Ficções de Guimarães Rosa: Perspectivas” (Editora Amarylis, São Paulo).
1 – No título “O Renascimento da Mulher nos Cantos de Laire Serra Matos”, nota-se a valorização do “Renascimento”, do “Renascer”. 2 – Nota-se a valorização das mutações. Das “Mudanças”. Fábio Lucas é crítico a favor da inovação e da releitura, da descoberta do novo que se acrescenta aos cânones, indo além do estabelecido. 3 - Verifica-se a “valorização do quadro social e familiar”. 4 - Para o crítico Fábio Lucas, urge evitar “comentários panfletários”, ou seja, evitar o lugar comum... 5 - ...e promover a “Libertação do poder patriarcal”. 6 – Devemos valorizar “estados de metamorfose”, na “epifania do renascimento” e 7 – dar importância à “substância de composições em rara condensação de sentidos”. 9 – Valorizemos “a palavra em suprema densidade”, na “investigação do ser”; e 10 – “o sabor arqueológico”, contra as dilacerações do espírito nos tempos hodiernos. 11 – As Referências: Fábio Lucas cita a importância de acumularmos referências significativas. 12 – Ressalta a validade de “reminiscências emocionais” do “eu-poético”, todavia, “tudo bem dosado, sem demasiada carga emocional”. 13 - Urge valorizar o “modo sintético”: “não se deixar possuir pela exorbitância do EU, da impostação egocêntrica cheirosamente sentimental”. Valorizada deve ser a síntese. 16 – Há de se manter um “distanciamento necessário”, no intuito de, em modo externo, de fora, contemplar-se a própria metamorfose, a renascença do escritor. 17 – “Cada poema deve ter curso natural, seu próprio destino”. “Na memória do leitor, ficam vultos esculpidos por palavras carregadas de sentido”.
Partindo do conteúdo do texto crítico “Sílvia Jacintho e a coreografia do desejo”: 1 - Do título, detectam-se duas valorizações: a do aspecto coreográfico, rítmico, dançarino e estudado dos textos; e a presença da sanha humana afetiva, amorosa, na questão do “Desejo”; 2 – a valorização “do bailado do espírito”. 3 – Bons são textos que “propõem insinuações e convites”, 4 - “ritmo e sedução a fecundar a imaginação do leitor, induzindo ao apelo erótico. 5 - “Dança, poesia e coreografia no núcleo da criação e seus arredores temáticos”. 7 - O texto deve ser acessível e não cansativo, assim, trabalhemos pela redução estudada. 8 - Na poesia e no bom texto, localizam-se “conhecimentos das artes como a dança, a literatura, a arquitetura, a escultura, a pintura a se desdobrarem no tempo e no espaço”. 9 – “O reino das palavras pode-se encontrar com a gestualidade do corpo, no objetivo da sedução e da conquista.” Lucas revela a função positiva da “ousadia”. 11 – E: pode-se traduzir a “uma visão poético-erótica do tema da dança, sem que lhe falte o sinal dramático das limitações do ser humano: o espaço restrito combinado à fugacidade do tempo serve-nos como antídoto da Morte.”
Conclusão: Em “A Mais Bela História do Mundo”, romance na cidade de Esmeraldas, MG, Fábio Lucas parte em busca de nomes enamorados numa árvore do tempo ido. Depois, num passeio por museus, já adulto, revela acepções percebidas ante pinturas e desenhos. Ou seja, já era seu legado afirmar a Pluralidade anotada década após em seu “O Poliedro da Crítica”, lançado pela paulista Editora Calibã.
Em “Ficções de Guimaraes Rosa, Perspectivas”, pela Amarylis, São Paulo, 2011: “a prosa de Guimarães Rosa avança em direção do Mito, a ficção de Clarice Lispector dá ênfase aos valores do cotidiano e tenta reduplicar as relações sociais que conduzem à solidão. “Laços de Familia”, de Clarice Lispector, simboliza uma visão pessimista do mundo, ao reduplicar uma célula da comunidade burguesa, ao penetrar nas consciências possuídas pelo medo e pela náusea, vagando com espanto e medo rumo ao vazio. O permanente recurso dos jogos de contraste, da descrição de sentimentos em choque, da conexão de palavras em choque, indica a divisão interior das personagens e a busca de uma identidade impossível, dentro de um quadro historicamente datado”.
Palavra do palestrante Rogério Zola Santiago: qualquer semelhança com situações atuais não terão sido meras coincidências, mas, consequências de uma realidade pouco a pouco plantada há séculos dentro do coração social brasileiro.
Trechos da palestra de Simone Von Randow: À vida do pensamento, de estudos, contrapõem-se os riscos da vida de ação, a participação consciente. Na figura de Fábio Lucas, o homem que teoriza e o que age não estão isolados. Antes se cravam em uma lúcida inquietação que estrutura, por assim dizer, toda a sua vida: a perplexidade diante do poder e da liberdade. Para um intelectual como ele, o problema da reflexão e do fazer são indissociáveis: Fábio Lucas incorpora incisivamente seu saber à práxis. ... Ele se empenha em produzir estudos que têm a realidade social e econômica como objeto central.
A obra “O Caráter Social da Literatura brasileira”, agraciada pelo Prêmio Jabuti em 1970, reúne ensaios críticos sobre a literatura brasileira, por meio dos quais Fábio Lucas aprofunda a investigação acerca da cultura e da literatura brasileiras: “possuímos verdadeiramente uma literatura autônoma e que reflita uma cultura nacional consciente? ... A principal tarefa do crítico consiste em cooperar para o restabelecimento do Humanismo que compense os fatores de desagregação social e de alienação pessoal. O crítico fixa um padrão de gosto, ao ligar a opinião pública à obra de arte. Apresenta-se como mediador do refinamento estético. Torna-se criador ao liberar determinada estrutura da obra, mostra-se como artífice da metalinguagem. Está em condições de refundir os elos quebrados entre a criação e o conhecimento, a arte e a ciência, o mito e o conceito. Desde Aristóteles, tem sido notado que os maiores críticos têm seu trabalho como parte de uma articulada visão de mundo”.
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Mensagem do Acadêmico Patrus Ananias (da Academia Mineira de Letras): “A obra de Fábio Lucas reflete cultura enciclopédica. Se o ensaio e a crítica literária expressam com vigor a sua vocação, esta se desdobra com fascinante riqueza e fecundidade pelos campos da História, das Ciências Sociais, da Economia, da Política, nas suas possibilidades reflexivas e dimensões éticas. Repassando a obra de Fábio Lucas, deparo-me com três volumes com afetuosas dedicatórias do autor. Um é o esplêndido “Mineiranças”. Fábio Lucas, na tradição dos grandes escritores universais, não esquece as suas origens, as suas raízes, a sua aldeia. O outro é “Intérpretes da vida social – um diálogo inicial com os filósofos universais”, Sartre entre eles, é um mergulho profundo na realidade brasileira e nos estudiosos de nossa formação. O terceiro é um livro que ele organizou com Luiz Gonzaga Beluzzo, “A Guerra do Brasil – A reconquista do Estado Brasileiro”, – um conjunto de propostas face o sistema mundial de dominação. O nosso grande pensador escreve a apresentação da obra – “Atualidade da Causa Nacional” e o ensaio “Capítulos da Brasilidade e a cobiça pelo Amazonas – Dinâmica constitutiva da identidade: o pluralismo cultural”. Temos aí a amplitude das reflexões de Fábio Lucas, permeadas por um grande amor a esta Pátria Brasil.
O evento reuniu 100 pessoas. Dentre elas, Rogério de Faria Tavares, acadêmico AML; Luis Giffoni, acadêmico AML; Rui Mourão, acadêmico AML; Caio Boschi, acadêmico AML; Olavo Romano, acadêmico AML; poeta Angela Togeiro, AMULMIG e AFEMIL; escritora Thereza Villela, AFEMIL; Nora Vaz de Melo, escritora e coreógrafa; Guy de Almeida e José Maria Rabelo, expoentes do jornalismo mineiro; Ana Maria Guimaraes, artista plástica; Kênia Bambirra; e também a família de Fábio Lucas: Rosana Lucas, Glaura Lucas, Zaninha Lucas, Bill Lucas e Lelena Lucas, filhos, sobrinhos e netos; Márcio Zola Santiago, dono da Escola de línguas IDIOM; e “Equipe de Gestão de Projetos", da AML, integrada por Inês Rabelo, Flávia de Queiroz e Guto Côrtes.
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