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Cia "Suspensa" apresenta espetáculo inspirado no pintor Marc Chagall
Construído a partir de imagens dos quadros de Chagall, o espetáculo de dança conta sete cenas baseadas em memórias dos intérpretes. Os bailarinos dançam em lugares suspensos, como trapézios, bancos e colchões, ora estão apoiados por mecanismos como cordas e roldanas A magia, a simbologia e o tom onírico das obras do pintor russo Marc Chagall são transpostas para o palco no novo espetáculo da Cia. Suspensa. Mesclando dança, teatro e circo, De Peixes e Pássaros tem apresentações nos dias 18 e 19 e 25 e 26 de abril, sábado e domingo, às 20 horas, no 104, espaço cultural localizado na Praça Rui Barbosa, no Centro. A encenação foi tecida sobre as imagens produzidas por Chagall e entre situações-memórias dos intérpretes. Em cena, são reproduzidas algumas "paisagens" chagallianas: personagens que habitam extensões indefinidas, inversão do céu e da terra, corpos não verticais que sobrevoam cidades, aldeias e circos, seres que se metamorfoseiam em pássaros, peixes e touros. O espetáculo é dividido em sete partes organizadas como contos de uma narrativa que mescla as linguagens circense, teatral e de dança. Diversos personagens passam pela cena, configurando universos de humor e melancolia, fuga e leveza: bailarinas, músicos, artistas de circo, noivos apaixonados, homens e mulheres em festa ou luto, em comunhão ou sós, um casal que dança tango em meio à desarmonia do ambiente, ou ainda uma garota que admira a dança, mas não sabe dançar ? personagem construída a partir do texto A coisa me escapa por entre os dedos, de Rodrigo Naves, publicado originalmente na revista Piauí e adaptado para o espetáculo. A espacialidade da montagem propõe uma subversão do lugar como dado concreto. A idéia de chão é subvertida e os bailarinos ?flutuam? em cena enquanto dançam. Três trapézios, três bancos, um colchão e uma cabeça de touro formam o conjunto dos materiais que são usados como suporte para as suspensões e, por vezes, são também transmutados pelas imagens poéticas. Um trapézio se transforma ora numa porta, ora num balanço, ora no ombro do pai, ora no próprio trapézio. Os personagens são embalados por uma trilha que sugere o surrealismo sutil de Chagall. A trilha oscila entre sonoridades aéreas e fugazes, e músicas de forte ritmo e pulso. Um tango, um jazz, um dub, um piano que toca ao fundo da cena, uma escaleta, um clarinete ? tocado ao vivo pelo dançarino Lourenço Marques ? se misturam ao som forte do vento, um bolero que toca baixinho em som de radiola, o barulho de uma feira e de uma praça. Quem assina a trilha é o músico paulista residente em Belo Horizonte Lênis Rino, autor também da trilha do primeiro espetáculo da companhia, Pouco Acima, que foi premiada no USIMINAS sinparc 2005. Corpos em suspensão De Peixes e Pássaros dá continuidade à pesquisa que a Cia vem realizando ao longo dos últimos anos sobre estar fora do chão e o que isso causa no corpo. Nesse espetáculo, a suspensão se dá de forma mais sutil, buscando uma interação maior com o chão. Os trapézios estão a poucos centímetros do solo. Em algumas cenas, os bailarinos estão suspensos apoiados por mecanismos como cordas e roldanas. Em outras, uma pequena suspensão se dá através de objetos como banco, colchão e mesmo o corpo do outro bailarino. O grupo conta que "de início havia o desejo de retomar um trabalho com a suspensão, com o vôo, desta vez, mais próximos do chão ou sobre ele. A partir desse universo e dos nossos desejos, pesquisamos várias fontes e no meio delas se destacou o pintor Marc Chagall por suas figuras invertidas e seu cotidiano às avessas: corpos que se misturam com aves ou peixes, muitas vezes sem gravidade, flutuando sem o menor compromisso com o que se espera de uma suposta realidade. As imagens chagallianas serviram tanto para propor a construção de um corpo e logo de uma dança, quanto para a construção do clima do espetáculo?, diz Patrícia Manata, atriz integrante. Para a montagem foram usados de base quadros de Chagall como A queda de Ícaro, O Violinista, Dedicado à minha noiva, Eu e a aldeia, Paris através da janela, Sobre Vitebisk, Sobre a cidade, O aniversário, Bela com Gola, O Passeio, Retrato duplo com copo de vinho e O Tempo é um rio sem margens. ?Não partimos das imagens, mas elas nos deram suporte. Algumas vezes como sentidos, sensações, idéias, algumas vezes como imagem. Não reproduzimos nenhum quadro como cena, na íntegra. Mas nos apropriamos de algumas posturas, movimentos dos personagens na composição de nossos próprios movimentos. Na organização do espaço buscamos uma composição chagalliana,? completa Tana Guimarães, atriz do grupo. Chagall foi lembrado em meio ao processo de criação através de um poema de Manoel de Barros que cita o pintor como referência no ato de ?transver? e ?desformar? o mundo pela arte. ?Chagall passou a fazer parte do nosso convívio. Passamos a conviver com noivos voando, cabeças de touro, galinhas que carregavam casais e outras figuras ?desformadas?. Nunca existiu a idéia de fazer um espetáculo sobre Chagall. Nem o espetáculo é baseado nos quadros dele. Existiu um encontro, quase um acaso. E aquilo que estávamos criando juntos foi aos poucos sendo invadido pelas imagens de Chagall. Isto aconteceu devagar. De início não tínhamos a intenção de expor esta referência, era mais uma referência, entre tantas?, explica Lourenço Marques.
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