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Espetáculo "1999=10" traz a ousadia da bailarina Dudude
O espetáculo "1999=10" traz para o público a superfície daquilo que infecta o mundo das aparências. De terno é tudo mais fácil. Essa é a máxima em cena, que apresenta cinco "objetos humanos" que se comportam como produtos afetados pelo mercado. A proposta é escancarar sintomas de um mundo imediatista, construído na superfície, e por isso raso e apoiado apenas nas aparências. Segundo a diretora, Dudude, "1999=10" pode ser considerado um escárnio da situação em que nos encontramos neste tempo, neste século, neste mundo repleto da espécie humana, com o efeito estufa, com calamidades climáticas, com a produção de lixo exorbitante. "Enquanto isso, aparentamos todos plenamente satisfeitos, como se não existissem problemas", explica. Inebriados por essa "plena satisfação", os personagens "coerentemente" trajados de terno, armadura contemporânea associada ao poder e à credibilidade do mundo dos negócios, debatem tragédias e catástrofes cotidianas estampadas na mídia, que ordinariamente atravessam seus corpos "ocos". Eles lêem o jornal. E todos os dias o papel está ali, envelhecendo rapidamente. As notícias a cada instante são outras e as mesmas, os personagens são outros e os mesmos, o tempo passa e quase nada realmente muda. Os homens continuam seus discursos cegos, surdos. A aparência esconde o buraco. A indumentária opaca não permite perceber que esses homens são meros produtos descartáveis, em meio a tantos, onde só a embalagem conta. Assim, "1999=10" brinda com ironia, a superfície, a prepotência, a soberba e o caos a que o homem de hoje foi acostumado. Como diria o personagem Pozzo, da peça Esperando Godot, de Samuel Beckett: "É uma desgraça, mas é assim!". Em algum momento da peça, a mestre em artes visuais Paola Rettore interrompe o espetáculo para falar sobre seus conhecimentos para a platéia. Dotada de um amplo repertório e profunda compreensão e "certeza" sobre todas as coisas, a palestrante irá compartilhar sua vasta sabedoria com os cinco intérpretes da cena. A cada dia da peça, a palestrante trará à tona um tema a ser debatido que será amplamente retrucado pelas cabeças pensantes da cena, armadas de terno e de discursos pré-fabricados. Onde está o conhecimento? A quem pertence? Não será tarefa fácil para Paola Rettore transmitir todo seu conhecimento a uma platéia "tão esclarecida e consciente" de sua posição intelectual. Dudude Bailarina, improvisadora, coreógrafa, diretora de espetáculos e professora de dança, Dudude estuda e trabalha desde a década de 70 a pedagogia do ensino da dança e seus desdobramentos. A artista transita por linguagens contemporâneas, da dança, da performance e da improvisação, experimenta diálogos com a música, o teatro, o vídeo e as artes plásticas, e se mantém interessada em aprimorar seus estudos sobre o movimento. Seus espetáculos ocupam espaços diversos e rompem com as fronteiras pré-estabelecidas da arte. Dudude sempre se mostra a frente de seu trabalho por construir com o corpo lugares fomentadores e transformadores das questões do pensar. Seu corpo escuta, registra e escreve a dança que o habita.
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