A partir de 10 de maio, obras em exposição na Casa Fiat de Cultura revelam o País representado pela grande pintora e outros artistas modernistas
Já no decorrer do século 19, muitos foram os artistas e intelectuais brasileiros interessados em constituir e evidenciar a autoimagem do País. Ao delinear as “faces” da nação, contudo, muitos deles não conseguiram desvencilhar-se de certo modo de olhar europeizado. No século XX, também ansiosos por desvelar as raízes da típica identidade do Brasil, os pintores e escritores modernistas foram além: buscaram renovação formal para as artes. De tal proposta artístico-nacionalista surgem obras de força única, como as telas de Tarsila do Amaral, cujas belas cores foram capazes de sintetizar a heterogeneidade do imaginário brasileiro.
Na exposição Tarsila e o Brasil dos modernistas, sediada na Casa Fiat de Cultura de 10 de maio a 10 de julho de 2011, o público terá a oportunidade de apreciar tais visões singulares de paisagens, tradições e tipos brasileiros, reunidas em um conjunto de 139 obras. Tendo como ponto de partida a obra de Tarsila do Amaral (1886 – 1973), os trabalhos selecionados procuram traçar um panorama de tentativas de representação visual de um país territorialmente vasto e culturalmente heterogêneo como o Brasil. Os trabalhos se reportam ao tempo e ao espaço onde foram produzidos e ao entendimento que os artistas modernos tiveram da realidade à sua volta.
Além de Tarsila, figuram na exposição outros artistas que, de modo explícito e constante, discutiram possíveis representações da identidade brasileira ao longo de suas trajetórias, como Di Cavalcanti e Candido Portinari. Há, também, obras de pintores que se dedicaram ao tema em períodos determinados de suas carreiras, como Cícero Dias, Lasar Segall, Vicente do Rego Monteiro e Victor Brecheret. A mostra apresenta, ainda, um terceiro grupo, cujo conjunto artístico não é necessariamente identificado à criação de uma imagem iconográfica do e para o País, mas que produziu trabalhos pontuais que tangenciam o tema, seja pela inclusão de um contexto geográfico facilmente reconhecível, seja pela curiosidade investigativa de hábitos e tradições locais. Nesta categoria, encontram-se Alberto da Veiga Guignard, Ismael Nery, Oswaldo Goeldi e Flávio de Carvalho.
“A expressão “uma festa para os olhos” parece ter sido criada para esta exposição. Tanto, que é impossível referir destaques, seria injusto fazê-lo. É uma celebração colorida da melhor brasilidade possível”, ressalta José Eduardo de Lima Pereira, presidente da Casa Fiat de Cultura.
Pinturas, esculturas, gravuras e desenhos foram selecionados pela curadora da exposição e professora de História da Arte, Regina Teixeira de Barros, e interpretados de acordo com os temas e figuras que exibem: “As obras apresentadas na exposição foram agrupadas de acordo com a semelhança de símbolos usados, mesmo que expressos de diferentes formas e em variadas constâncias: a beleza natural do país, a exuberância da fauna e da flora, as festas e a religião popular, o interior do Brasil preservado da influência dos estrangeiros, e os tipos humanos, ícones favoritos dos modernistas para representar o Brasil”, explica a curadora. Dentre as obras, destacam-se as pinturas coloridas de Tarsila, as gravuras negras de Goeldi, as paisagens imaginárias de Guignard e as experiências performáticas de Flávio de Carvalho.
“A exposição, contudo, não pretende transformar estes últimos em artistas comprometidos com a produção de cunho nacionalista, nem menosprezar a história da arte hegemônica. Buscamos, apenas, aproximar trabalhos específicos que, interpretados sob certos ângulos, podem ampliar o debate em torno das representações visuais simbólicas do País”, ressalta Regina Teixeira, ao lembrar, ainda, que o recorte feito pela mostra não tem o intuito de servir de examine à produção dos modernistas do ponto de vista de estilo, mas de “traçar relações temáticas, a fim de tornar claras as semelhanças e/ou diferenças em termos de opções de figuração de cunho metafórico”. Neste sentido, o agrupamento de trabalhos por tema facilita a análise da contribuição modernista para o debate em torno da produção simbólica de um imaginário social, na medida em que os temas se repetem com freqüência, ainda que sob formas diversificadas.
"A exposição Tarsila e o Brasil dos modernistas é um desdobramento do Projeto Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral desenvolvido pela Base7 sob coordenação de pesquisa da historiadora Regina Teixeira de Barros, que assina a curadoria da exposição com a seleção de grandes expoentes do modernismo brasileiro para o público mineiro.", explica Maria Eugênia Saturni, uma das diretoras da Base 7 Produções Culturais.
A exposição é uma realização da Casa Fiat de Cultura e da Base7 Produções Culturais, com patrocínio da Fiat Automóveis, co-patrocínio do Itaú, parcerias da APPA, Santander e apoio do Ministério da Cultura através da lei de incentivo à cultura.
As cores do Brasil modernista
Ao tomar as paisagens do Rio de Janeiro como exemplo da representação do Brasil, Tarsila retratou explicitamente, em Rio de Janeiro e Cartão Postal, a Guanabara e o Pão de Açúcar, todos com muitas cores e vegetação exuberante. De modo similar, Segall, Goeldi e Cícero Dias abordaram o mesmo tema. Já Guignard e Portinari pintavam tais elementos em segundo plano, enquanto Ismael Nery retrataria a paisagem carioca como cena de fundo de várias aquarelas, diferentes ao também apresentar marcas de seu universo pessoal, como nos trabalhos Enseada de Botafogo e Baía de Guanabara e Morte de Ismael Nery.
Como forma de revelar tal diversidade das obras, cada tema da exposição permite, ao público, encontrar laços de união e de distanciamento entre os artistas. O fato inegável é o compartilhamento dos temas, seja com cores vibrantes, como as de Tarsila, ou mais obscuras, como as de Goeldi. Na mostra, os visitantes também poderão observar os conceitos remanescentes de uma época, como a valorização estética do popular. Em outras palavras, a valorização do simples como genuíno. Daí os muitos quadros representativos de temas como “a favela” e “o carnaval”.
Em síntese, o Brasil heterogêneo revelado na exposição é composto tanto pela luminosidade de Tarsila, mulatas de Di Cavalcanti (como em Samba), mães negras de Segall (Mulata com criança), interior mineiro de Guignard (Noite de São João), cenário nordestino de Cícero Dias (Condenação dos usineiros) e investigações antropológicas de Flávio de Carvalho (Experiência no. 2), quanto pelos portos sombrios de Goeldi e os índios de Brecheret.
Programa educativo
A cada exposição, a Casa Fiat de Cultura desenvolve um programa educativo para atender a todos os setores da sociedade: crianças, jovens, adultos, estudantes das redes pública e privada e grupos como associações e ONGs, entre outros. É um dos diferenciais de suas visitas orientadas e um motivo a mais para conhecer a mostra Tarsila e o Brasil dos modernistas.
Idealizado pela educadora e artista plástica Vera Barros, o programa busca estimular o conhecimento e a interação entre a obra de arte e o público. O programa educativo desta exposição está baseado na pergunta “como se constrói o conhecimento social?“ Alunos, professores e visitantes serão os protagonistas da visita à exposição. Dessa forma, em momentos de descontração, surgem as próprias opiniões cerca da arte. As histórias pessoais e o imaginário único de cada um ganham espaço e a proposta de troca de informações e experiências se transformam em mais que uma visita técnica, cria um vínculo com a arte, proporcionando uma conversação cultural.
O Programa também possibilita aos professores realizarem projetos que vão além das visitas orientadas. Para isso, oferece o serviço de assessoria ao professor, em formato de workshop, durante os finais de semana, com a intenção de dar suporte aos profissionais interessados em elaborar o próprio roteiro para a exposição.
O agendamento para grupos, escolas e assessoria ao professor poderá ser feito pelo telefone (31) 3289-8911 ou pelo e-mail:
[email protected].
Programação Paralela
A programação paralela à exposição Tarsila e o Brasil dos modernistas prevê a realização de palestras temáticas. No dia 10 de maio, às 16h, a curadora Regina Teixeira Barros abre a série de palestras ao abordar sobre a representação visual do Brasil realizada pelos modernistas.
A ideia principal é mostrar que tanto os modernistas que são associados à temática nacional, quanto outros, que não estão ligados a ela, contribuíram para a ampliação do entendimento de brasilidade como imagem. “Será possível discutir e avaliar o modo com que o Brasil se traduz em imagens para os modernistas”, adianta a curadora.
A palestra é direcionada a todos aqueles que se interessam pelo movimento modernista. Os participantes terão a oportunidade de ouvir a responsável pela exposição Tarsila e o Brasil dos modernistas aprofundar a respeito dos artistas presentes na mostra e a forma como contribuem para a problematização sobre a representação do Brasil nas obras.
Programação:
19/05 - 19h - Marcos Hill
Professor de história da Arte da Escola de Belas Artes da UFMG.
Tema: Tarsila do Amaral e os demais artistas da exposição produziram um conjunto de obras de arte que criaram nexos originais entre os conceitos de civilização, cultura e nação, apresentando perspectivas que orientaram o olhar de seus contemporâneos Forma-se na arte moderna brasileira toda uma geração voltada para a busca das raízes históricas da sociedade brasileira e, ao mesmo tempo, atenta aos debates que se desenrolavam nos grandes centros metropolitanos internacionais.
09/06 - 19h - Angela Lago
Escritora e artista plástica, ilustradora. A maior parte de sua obra é dedicada às crianças. Em alguns de seus livros não usa palavras, apenas imagens.
Tema: As diferentes poéticas e “narrativas” de Tarsila do Amaral e os demais artistas da exposição. Uma abordagem voltada para o público infantil e seus familiares.
16/06 - 19h - Professor Luiz Flávio Silva
Professor de História da Arte do curso de pós-graduação: "História da Arte" (PUC - Minas) e em cursos livres em Belo Horizonte e São Paulo. Foi também professor de Estética (Filosofia da Arte), Teoria e História da Arte em cursos de graduação e pós-graduação da Escola Guignard/UEMG (1999-2006).
Tema: Tarsila do Amaral e os artistas da exposição no cenário das artes plásticas brasileira e internacional desde o final do século XIX até meados do século XX.
30/06 - 19h - Marilá Dardot
Artista plástica
Tema: O novo olhar para as paisagens urbanas, marítimas e interioranas e as diversas presenças femininas nos artistas da exposição.
Cinco anos de arte e discussão
Desde 2006, mais de 250 mil pessoas visitaram a Casa Fiat de Cultura, que, desde sua fundação, destaca-se por abrigar grandes mostras internacionais de artes plásticas e apresentações inéditas de acervos brasileiros, com debates acadêmicos e programas educativos. Só em 2009, 124 mil visitantes apreciaram as exposições de Auguste Rodin e Marc Chagall, duas das mais importantes mostras do Ano da França no Brasil e que, após Belo Horizonte, seguiram para o Rio de Janeiro e São Paulo. Em 2010, a itinerância da mostra Guignard e o Oriente, realizada pela Casa Fiat de Cultura e o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo e Porto Alegre, contou com público de mais de 50 mil pessoas.
Mantida pelas empresas do Grupo Fiat, a instituição é o primeiro espaço cultural criado por uma fabricante de automóveis no País. Sua programação destaca-se pelo alto valor histórico, artístico e educativo e tem entre seus objetivos o estímulo à circulação dos bens culturais, à difusão da cultura brasileira e mundial, à formação do público, à democratização do acesso às artes e à inclusão social. A Casa Fiat tem conseguido, ainda, superar o desafio de garantir experiências qualificadas e enriquecedoras para todos os públicos, que possibilitem gerar novas reflexões, conhecimentos e promover o desenvolvimento humano e social.
Serviço:
- Exposição “Tarsila e o Brasil dos Modernistas”
- Período: 10 de maio a 10 de julho de 2011
- Local: Casa Fiat de Cultura – Rua Jornalista Djalma Andrade, 1250 – Nova Lima – MG
- Horários: Terças a sextas, de 10h às 21h e Sábados, domingos e feriados, de 14h às 21h
- Entrada e transporte gratuitos
Horários de saída do transporte na Praça da Liberdade (em frente à antiga Secretaria de Estado de Educação - prédio rosa)
Terça a sexta - 9h30, 12h, 13h30, 15h, 16h30, 18h e 19h30
Sábados, domingos e feriados: 13h30, 15h, 16h30, 18h e 19h30
Importante: o último deslocamento de transporte gratuito sairá da Casa Fiat de Cultura, às 21h, e chegará ao seu destino às 21h45 (Praça da Liberdade).
Transporte sujeito à lotação (14 passageiros).
Visitas orientadas para grupos e escolas: 31 3289-8911 e
[email protected]
Informações: 31 3289-8900 e
http://www.casafiatdecultura.com.br