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Literatura de Cordel no Carnaval do Salgueiro
A tradicional escola de samba Acadêmicos do Salgueiro acertou em cheio ao escolher o tema do seu próximo carnaval. A vermelha e branca tijucana vai levar para a avenida o enredo "Cordel Branco e Encarnado", de autoria de Renato Lage e Márcia Lage. A escola pretende unir a arte dos poetas populares do Nordeste com o inconfundível batuque carioca. Sem esquecer das origens do cordel na Europa , que ressurgiu com toda a força no Nordeste em histórias que caíram no gosto popular, como "O Romance do Pavão Misterioso", obra que inspirou os carnavalescos a criarem a logomarca do enredo salgueirense. A sinopse do enredo foi apresentada aos compositores no dia 14 de junho em reunião na quadra da Rua Silva Teles e surpreendeu a todos por ter sido escrita em forma de poema como um tradicional cordel. Tive a oportunidade de estar presente trocando informações com o carnavalesco Renato Lage, a diretoria cultural e parte da sua talentosa equipe, entre eles Gustavo Mello, Eduardo Pinto, Dudu Azevedo e Luciane Malaquias. Como poeta popular, cordelista e membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel gostaria de parabenizar a Acadêmicos do Salgueiro por escolher um enredo que verdadeiramente aborde uma das maiores riquezas da nossa cultura popular brasileira. E uma bela parceria está se iniciando entre estas duas academias: a do samba e a da literatura de cordel. Confiram abaixo a sinopse na íntegra: Salgueiro 2012 (Cheio de poesia, imaginação e encantamento) Minha "fia", meu senhor Deixa eu me apresentar Sou poeta e meu valor Vai na avenida passar Basta imaginação Um "cadim" de inspiração Que eu começo a versar Vou cantar a minha arte Que nasceu bem lá distante Num lugar que hoje é parte Da nossa origem errante Vim das bandas da Europa Nas feiras, a boa trova Era demais importante! Foi assim que o mar cruzei Na barca da encantaria Chegou por aqui um Rei Com bravura e poesia Carlos Magno e o os doze pares Desfilando pelos mares Da mais real fidalguia E veio toda a nobreza Que um dia eu imaginei Rainha, duque, princesa E até quem eu não chamei: Um medonho de um dragão Irreal assombração Dessa corte que eu sonhei Também tem causo famoso Que nasceu lá no Oriente De um tal misterioso Pavão alado imponente Que cruza o céu de relance Dois jovens, e um só romance Vencendo o Conde inclemente Todas essas histórias Renasceram no sertão Onde vive na memória O eterno Lampião E não houve um brasileiro Que de Antônio Conselheiro Não tivesse informação Pra viajar no meu verso É preciso ter "corage" Vai que um bicho perverso Surge que nem "visage"? Nas matas sertão afora Lobisomem, caipora Que medo dessas "image"!! Pra findar esse rebuliço Rezar é a solução! Valei-me meu "padim" Ciço! Vá de retro, tentação! Nossa Senhora eu não quero (Tô sendo muito sincero) Cair nas garras do cão! E não é que meu santo é forte? Cheguei ao céu divinal É tamanha a minha sorte A minha vitória afinal É cantar com alegria Fazer verso todo dia Na terra do carnaval Ao ver chegar a tal hora Da minha "alegre" partida Saudade, palavra agora Tem posição garantida Mas não se avexe meu irmão Que hoje a coroação Acontece é na avenida Pois eles hão de herdar Todo esse sertão sonhado Monarcas que vão reinar Na corte do Sol dourado Poetas de tradição Recebam de coração Um cordel Branco e Encarnado E agora eu vou sem medo Fazer festa "de repente" Vai nascer um samba-enredo Pra animar toda a gente Afinal, não sou melhor Muito menos sou pior Só um poeta diferente!
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