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Exposição “Dobra e Desdobra da Espinha Dorsal” ativa raízes culturais e a força da experimentação visual
Uma jornada sensorial pelas camadas visuais e ancestrais de Marconi Marques
A Galeria Manoel Macedo inaugura no dia 22 de novembro, 19h, a exposição DOBRA E DESDOBRA DA ESPINHA DORSAL, do artista Marconi Marques, e convida o público a atravessar camadas nas quais memórias e alegorias se entrelaçam em uma narrativa visual intensa e enraizada em territórios existenciais e imaginários. Sob a curadoria de Maria Angélica Melendi e Luciana De Oliveira, o trabalho revela um caminho de experimentação e desdobramentos de sua poética, refletindo sua trajetória artística entre a rua, o corpo, territórios e sonhos. Em cada eixo, a exposição desdobra fragmentos de sua história, evocando tanto o concreto das cidades quanto o místico das tradições de conhecimentos afro-indígenas e rurais que marcam sua trajetória. "Sinto que meu trabalho percorre um 'labirinto interior', onde os elementos culturais e urbanos se fundem para revelar uma espécie de coluna vertebral imaginada", explica Marconi.
O primeiro eixo da exposição, situado no salão maior da galeria, reúne obras da Série Cavaletes: Programa V Invertido, que se iniciam em 2004. A instalação é composta por pinturas-objetos que desafiam o espaço convencional, explorando o que há dentro, atrás e através das estruturas. Essa configuração é uma proposta para instigar o espectador/participante a um olhar e um corpo menos passivo, mais curioso, dentro do cubo branco. A série sugere colocar o público entre o abismo e o céu das imagens, segundo o próprio artista. Assim cria um ambiente multifacetado com figuras humanas, letreiros, anúncios populares, personagens de filmes e cores vibrantes. Muitas destas peças já foram exibidas anteriormente na Galeria de Artes Copasa e no Palácio das Artes, estabelecendo-se como um marco da pesquisa de suportes que define o trabalho de Marconi Marques.
Natural de Jordânia-MG, no Vale do Jequitinhonha, Marconi traz para a obra a experiência de quem cresceu entre as tradições populares e o cenário urbano. Formado pela Escola Guignard da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), durante seu percurso de formação, exercia paralelamente o ofício de letrista e fazia "bicos” produzindo pinturas vernaculares em murais e propagandas populares na região norte de Belo Horizonte. Essa vivência, associada a suas raízes culturais, transforma-se em materialidades visuais que “dobram, desdobram e redobram” os sentidos na e da exposição, como descrevem as curadoras, dando a ver e a sentir obras que são pontes entre a imaginação, o cotidiano urbano e os conhecimentos dos povos e territórios tradicionais. "Junto desse jogo fluido das imagens há um outro jogo, os das palavras que, escritas em preciosa caligrafia de letrista de mão cheia, se espalham pelos planos, inconclusas, truncadas, sugerindo leituras alteradas", escreveu Melendi acerca da série Cavaletes.
No segundo eixo, o desdobramento da exposição segue com retratos de Mestres e Mestras de Saberes Tradicionais ligados às culturas afro-brasileira e indígena. Essas obras destacam personagens que atuam tanto em suas comunidades quanto no âmbito acadêmico. Na parede oposta, a série Re-vendo Sonhos captura uma realidade onírica, com imagens que provocam uma leve ilusão de ótica ao serem pintadas sobre placas de eucatex côncavas. Essa técnica não apenas imprime profundidade visual, mas também evoca uma sensação de vertigem e conexão com uma dimensão mais subconsciente.
Ainda no segundo eixo, outra série intitulada Cabeças de Cajados adiciona mais uma camada tridimensional à exposição. Esses trabalhos surgem de galhadas de madeira recolhidas pelo artista em áreas de mata e terrenos baldios, transformadas em esculturas por meio de entalhes e pinturas. Para as curadoras, essas peças remetem a uma memória ancestral, lembrando elementos de cosmologias originárias, xamânicas. Como no zoomorfismo da serpente emplumada, e de animais de poderes, que evocam planos em conexão, provocando reflexões sobre a temporalidade, sobre o corpo e a possível imantação de uma natureza que é viva e ativa, com quem o artista dialoga para colaborar e criar. Portanto Cabeças-Coração. "E assim Marconi elucubra uma visibilidade que pisa a terra e o território de comunidades locais e imaginadas, as quais não adentra sem pedir licença, e se vale de outras astúcias artísticas, como escutar a palavra-corpo de existências que se expressam pela matéria orgânica ou pela matéria intangível dos sonhos", destaca Luciana De Oliveira.
O terceiro eixo, Obras em Cura, revela o lado mais experimental e em processo do artista. Aqui, Marconi explora uma pluralidade de materiais e técnicas como a escultura e o desenho, mas mantém a pintura como elemento central. Esse trecho da exposição propõe ao público uma reflexão sobre a ideias de cura e transformação, também sobre cuidado e tempo de maturação, que permeiam as múltiplas camadas da exposição. “É como um queijo do Serro, que precisa de tempo natural de maturação, que o torna mais firme, macio e de sabor marcante. O tempo adiciona camadas novas nas coisas, ou nos troca a pele, ou nos dá texturas novas”, reflete Marconi.
Maria Angélica Melendi, uma das curadoras, enfatiza as relações da obra de Marconi Marques no contexto da arte contemporânea brasileira. Para ela, o artista representa uma ponte entre o urbano e o ancestral, sendo um “tradutor visual de memórias e do espaço que ocupa”. Luciana De Oliveira, co-curadora, complementa, ressaltando como Marconi utiliza suas obras para reconfigurar o ver e o sentir, ampliando, no espaço expositivo, a compreensão das relações com a terra, o território, a memória e o sonho.
A exposição “Dobra e Desdobra da Espinha Dorsal” estará aberta ao público na Galeria Manoel Macedo de 23 de novembro a 24 de dezembro, proporcionando uma imersão nas múltiplas linguagens e alegorias do artista
A mostra é uma oportunidade para experimentar o que Marconi Marques chama de “dorso” de sua obra, onde as dobras e desdobramentos se materializam em uma narrativa rica em texturas, cores e significados, evocando a contemporaneidade entre as formas da arte, as linguagens visuais urbanas e as memórias de suas origens no Vale do Jequitinhonha.
Galeria Manoel Macedo Arte
Fundada em 1981, a Manoel Macedo Arte é reconhecida como uma das galerias mais modernas e funcionais de Belo Horizonte, destacando-se pela eficiência em proporcionar uma experiência visual imersiva entre o público e as obras expostas. Com ampla experiência e compromisso na valorização de novos talentos, a galeria tornou-se um importante polo de referência para a produção contemporânea. Sua programação anual reúne exposições individuais e coletivas, apresentando artistas com variadas abordagens e suportes, sempre priorizando a qualidade e a força expressiva das criações exibidas.
SERVIÇO: Dobra e Desdobra da Espinha Dorsal
Abertura: 22 de novembro, 19h
Período: 23 de novembro a 24 de dezembro
Visitação: terça a sábado, das 10h às 19h
Local: Galeria Manoel Macedo
Endereço: Rua Lima Duarte 158 - Carlos Prates, Belo Horizonte
Entrada: Gratuito
Instagram: @manoelmacedoarte | @marconimarques.art
Foto: Divulgação
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