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28º forumdoc.bh celebra o cinema documental com programação gratuita

Evento será realizado entre 21 de novembro e 01 de dezembro, com exibição de 88 filmes e realização de seminário

De 21 de novembro a 1º de dezembro, Belo Horizonte sedia a 28ª edição do forumdoc.bh – Festival do Filme Documentário e Etnográfico, Fórum de Antropologia e Cinema. Totalmente gratuito, o evento, um dos mais importantes do cinema documental no Brasil, será realizado nas salas do Cine Humberto Mauro e do Cine Santa Tereza. Ao todo, 89 filmes serão exibidos em 49 sessões, distribuídos em quatro mostras, além de sessões especiais, seminários e atividades online. A programação completa está disponível no site do festival.

Segundo Júnia Torres, organizadora e curadora do forumdoc.bh, "O forumdoc.bh, organizado pelo coletivo Filmes de Quintal, é um espaço de formação que construímos há mais de duas décadas, funcionando de forma coletiva e orgânica, com uma base de experiências compartilhadas. O festival nasce da interação entre cinema e antropologia, que fundamenta nossa visão e abordagem do documentário. Esse vínculo é essencial para o fórum, que valoriza os encontros entre realizadores, público e cineastas, promovendo trocas e reflexões. Nesta edição, trazemos para Belo Horizonte uma seleção diversa, com produções recentes, documentários indígenas, obras de novos realizadoras e realizadores e também filmes históricos.

Abertura do festival – O filme A Queda do Céu, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, abre o 28º forumdoc.bh no dia 21 de novembro, às 19h, no Cine Humberto Mauro. Inspirado no livro de Davi Kopenawa e Bruce Albert, o filme traz o testemunho do líder Yanomami Davi Kopenawa sobre o ritual Reahu, que une a comunidade de Watorikɨ em um esforço simbólico para sustentar o céu, criticando o impacto devastador da mineração ilegal. A sessão contará com a presença de Eryk Rocha e do fotógrafo Yanomami Morzaniel Iramari, marcando uma das primeiras exibições do filme no Brasil e a primeira em Minas Gerais, após sua estreia na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes.

Programação Diversificada – O festival traz uma programação diversificada, com mostras que celebram a resistência e a memória de povos indígenas e a luta anticolonial, além de homenagear mestres do cinema brasileiro e revelar a produção de realizadores contemporâneos. A mostra-seminário "Mekarõ Ti: Coletivo Beture de Cineastas Mebêngôkre" destaca a produção audiovisual indígena com cinco sessões temáticas e um seminário especial. "Kuxa Kanema: Moçambique, 50 Anos de Libertação" marca o cinquentenário da independência de Moçambique, resgatando filmes que documentam o enfrentamento ao colonialismo e o legado da luta antirracista. Já "Cristina Amaral: Montagem e Pensamento" homenageia a trajetória da montadora brasileira, que estará presente para comentar suas colaborações com grandes cineastas. A "Mostra Contemporânea Brasileira" exibe documentários recentes que exploram as complexidades do Brasil atual, enquanto as Sessões Especiais trazem desde clássicos restaurados até estreias de diretores renomados, proporcionando ao público uma visão multifacetada do cinema documental.

Mekarõ Ti: Mostra-Seminário Coletivo Beture de Cineastas Mebêngôkre – Focada no Coletivo Beture, um dos coletivos de realização indígena mais atuantes no país atualmente. A mostra, realizada no forumdoc.bh, contará com cinco sessões fílmicas que reunirão 26 títulos organizados nas seguintes temáticas: Pyka (Terra); Mekarõ Tum, Me Ingrykam Karõ (Imagens de Arquivo e Imagens para a Luta); Metoro (Festa); Mekukradja Àbikàra (Cultura Misturada) e Mēkronro (O Contato). Também no contexto da mostra, serão realizados cinco encontros em formato de seminário, com inscrições gratuitas até o dia 24 de novembro. As reuniões contarão com a presença de seis integrantes do Coletivo Beture de cineastas Mẽbêngôkre-Kayapó, convidados pelo forumdoc.bh.

Desde seu surgimento em 2016, o Beture tem organizado e estruturado um movimento de juventude nas comunidades, registrando a vida e a cultura de seu povo por meio de tecnologias audiovisuais e diversas mídias. Hoje, o coletivo desempenha um papel fundamental na conquista de reconhecimento cultural, assim como na visibilidade de suas lutas políticas.

O Beture possui uma produção profícua de filmes que geralmente abordam as metoro – festas de nominação, eventos políticos, e alguns filmes de ficção que representam narrativas oriundas da mitologia Mẽbêngôkre-Kayapó, transmitida oralmente pelos mais velhos. Os filmes circulam nas diversas aldeias que compõem o território Mẽbêngôkre-Kayapó, localizado nos estados do Pará e Mato Grosso. Essas produções também alcançam outros públicos em âmbito regional, nacional e internacional.

Mostra kuxa kanema: Moçambique, 50 Anos de Libertação – Em comemoração ao cinquentenário da independência de Moçambique, que se completa em junho de 2025, a mostra, com curadoria de Ewerton Belico, resgata filmes que documentam as disputas em torno da memória e da história da longa guerra contra o colonialismo vivida pelo povo moçambicano entre a década de 1960 e o começo da década de 1970, e ainda a luta contra os regimes racistas vizinhos da Rodésia e da África do Sul, que se prolongaria por toda a década seguinte.

Em Kuxa kanema: Moçambique, 50 Anos de Libertação, destaca-se a presença de realizadores brasileiros na construção de uma cultura cinematográfica socialista (como José Celso Martinez Corrêa, Celso Luccas e Geraldo Sarno) e as retomadas recentes da elaboração memorialística do prolongado conflito anticolonial (como Ike Bertels e Inadelso Cossa).

Cristina Amaral: Montagem e Pensamento – Dedicada ao trabalho de Cristina Amaral, uma das montadoras mais influentes do cinema brasileiro, a mostra conta com 11 filmes organizados em cinco sessões. Elas exploram suas colaborações com nomes icônicos do cinema brasileiro, como Carlos Reichenbach, Andrea Tonacci e Raquel Gerber. Cristina participará de sessões comentadas e de uma entrevista inédita publicada no catálogo do festival.

Mostra Contemporânea Brasileira – Composta por obras nacionais finalizadas nos últimos dois anos, a mostra tem foco no modo documental e suas interlocuções. Entre as 385 produções inscritas, foram selecionados 26 filmes de 18 estados brasileiros, que serão exibidos em 11 sessões. A intenção é fomentar e mapear a produção audiovisual recente de filmes documentários e etnográficos, abordando questões sociais e políticas do presente. A curadoria foi realizada por Breno Henrique, Carol Almeida e Milene Migliano.

Sessões Especiais – As sessões especiais do forumdoc.bh reúnem filmes selecionados por sua capacidade de associar linguagem a questões do nosso tempo histórico, abordando temas com os quais o festival construiu relações ao longo dos anos. Também se destacam as produções de documentaristas consagrados que marcaram a história do festival, como Jorge Bodanzky, que estará presente para debater o raro Gitirana (1975), realizado em co-direção com Orlando Senna e exibido aqui em cópia restaurada. Destaque também para o filme mais recente do cineasta palestino Kamal Aljafari, A Fidai Film (2024), além da estreia de filmes contemporâneos de cineastas mineiros renomados, como Cao Guimarães, com seu último longa Amizade (2024), e Ricardo Alves Jr, com Parque de Diversões (2024).

Além da programação nos espaços físicos, o 28º forumdoc.bh oferecerá uma seleção online de 22 de novembro a 8 de dezembro. No total, serão disponibilizados 24 filmes da mostra Contemporânea Brasileira e 18 filmes da Mekarõ Ti: Mostra-Seminário Coletivo Beture de Cineastas Mebêngôkre. As obras estarão acessíveis no site oficial do festival, forumdoc.org.br, e parte delas também poderá ser vista na plataforma de streaming gratuita Itaú Cultural Play, dedicada a produções nacionais, em itauculturalplay.com.br.

Catálogo e Identidade Visual

A arte do catálogo do forumdoc.bh.2024 é assinada por Tákáknhõre Kayapó, jovem artista do Coletivo Beture de Cineastas Mêbengôkre, da aldeia Kamoktidjam, Terra Indígena Kayapó (PA), e fotógrafo de retratos de animais de seu território. O projeto gráfico foi realizado por Marcos Chagas.

O catálogo estará disponível gratuitamente em formato impresso e digital no site do festival.

Sobre o forumdoc.bh

O forumdoc.bh foi criado em 1997 com o objetivo de compartilhar filmes de difícil acesso nas salas de cinema convencionais, além de promover reflexão e formação crítica de público, fomentar a pesquisa e a qualificação da produção audiovisual em torno ao filme documentário e ao cinema mais inventivo que com ele dialoga.

Nos últimos anos, o festival tem apresentado uma produção que aponta para para a renovação e diversificação do filme documentário como forma expressiva de coletivos e segmentos sociais e étnico-raciais marginalizados, tais como: realizadores e realizadoras indígenas; os cinemas negros, cinemas queer, e os coletivos e autores e autoras de regiões de periferia. 

O festival conta com incentivo da Lei Federal de Incentivo à Cultura, patrocínio do Itaú e da Lei Municipal de Incentivo à Cultura / Prefeitura de Belo Horizonte, por meio do patrocínio do UNI-BH. Conta ainda, com o apoio da Fundação Clóvis Salgado, por meio do Cine Humberto Mauro. A curadoria e a produção são assinadas por pesquisadores e integrantes do coletivo Filmes de Quintal, convidadas e convidados.

Foto: Felipe Canêdo

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